Uma Nova Abordagem:
“Aprendizagem e Ensino por
Projetos”
Baseado no Relato de Observação de uma Aula de
Espanhol no laboratório de Informática
Zilda
Cristina Ventura Fajoses Gonçalves [1]
Uma Nova Abordagem: “Aprendizagem e Ensino por Projetos” [2]
Resumo:
As situações educacionais e suas relações cotidianas, onde
a curiosidade e as novas descobertas geram novas questões dentro do conteúdo e
há mudança da abordagem inicial de "Ensino por projetos" para
"Aprendizagem por projetos" criando-se uma mescla das duas.
Palavras-Chave: TIC´s. Aprendizagem. Ensino por Projetos.
Aprendizagem por Projetos. Ensino/Aprendizagem.
Web/internet no Ensino.
Abstract:
The
educational situations and their everyday relationships, where curiosity and
new discoveries generate new questions within the content and change the
initial approach of "education for projects"to "learning by
projects" by creating a mix of both.
Keywords: ICT's. Learning. Teaching by Projects. Learning by Projects. Teaching and Learning. Web
/ Internet in Education.
Considerações acerca do “Relatório de
Observação de uma Aula” – (em anexo).
Durante o relato de observação de uma aula de Oficina da
escola Caic-Núbia, onde os alunos utilizavam as tecnologias na sala de
informática para aquisição de conhecimentos relacionados à Língua Espanhola,
alguns alunos, simplesmente acessaram o site da Turma da Mônica do Maurício de
Souza e começaram a ler histórias em espanhol.
É interessante notar que esse “desvio” foi ocasionado por
informações adquiridas pelos alunos num outro projeto que estava sendo aplicado
na escola: “Quadrinhos – Aprender e Ensinar Brincando”, onde os alunos estavam
aprendendo a utilizar a “Máquina de Quadrinhos” da Turma da Mônica.
Quando do “desvio” do aluno para as histórias em quadrinhos
em espanhol - de certa forma com a concordância tácita da professora, que longe
de repreendê-los, os ajudou na tradução e interpretação - ficou demonstrado que
uma atividade centrada na “Aprendizagem por projetos” pode, em alguns casos,
facilmente limitar uma atividade centrada no “Ensino por projetos”, uma vez que
o aluno deixou de ser um sujeito passivo para se tornar ativo na decisão de
como se daria seu aprendizado durante a aula, com o consentimento e incentivo
da própria professora, que os ajudou inclusive no uso dos aspectos técnicos.
Essa foi uma forma de realizar novas descobertas a partir
do que já estavam “trabalhando”, de “ressignificar” o que já sabiam/tinham
aprendido na própria aula correlacionando-as ao seu cotidiano de Quadrinhos
lidos no Brasil.
Como já foi observado antes:
“Novos projetos que busquem utilizar as TIC´s (Tecnologias de
Informação e Comunicação) na escola de forma eficiente devem privilegiar o
aspecto pedagógico, capacitar seus professores e obter uma boa infraestrutura
física em local adequado para que se tenha êxito. / Se apenas um desses
aspectos falhar, corre-se o risco de que tudo falhe.” (GONÇALVES, Zilda C. V.
Fajoses. - "Diretrizes para o trabalho pedagógico das TIC: um acordo
coletivo", 2010, s/p.)
E felizmente, nenhum desses aspectos falharam na aula em
questão.
Além disso,
“As TIC´s são apenas um meio para se atingir o principal objetivo:
construção de conhecimento. São apenas uma forma melhor de aplicação de
técnicas e métodos para, pedagogicamente, transformar informação em
conhecimento. / A internet é o maior repositório de informação atualmente. Todo
tipo de informação. O aluno precisa ser “conduzido” pelo professor nesse “mar”
não navegado; precisa ser ajudado com as técnicas que o ajudem a buscar e
discernir as informações oferecidas; precisa aprender a dar-lhes significado e
contextualizá-las.” (...) “Hoje se pode ter qualquer informação ao alcance dos
dedos. Elas são vastas, completas, visuais, auditivas e interessantes. Mas
precisamos distinguir o que é importante, real e verdadeiro, do que não é. Esse
é um dos aspectos que não pode ser ignorado pelos responsáveis pedagógicos de
um estabelecimento de ensino,” (...) “ E o docente não precisa ter medo de
mostrar que está aprendendo junto com seus alunos – isso lhes ensinaria um novo
conceito de respeito e humildade de um professor que deixou de ser “onisciente”
para se tornar aquele que “aprende ensinando”, ressignificando toda a relação
professor-aluno e ensino-aprendizagem: inovando.” (Id. Ibid.)
Alguns aspectos citados abaixo, e acontecidos na aula
observada, corroboram minha conclusão sobre o fato de determinadas atividades
centradas na “Aprendizagem por projetos” estarem no limiar de uma atividade
centrada no “Ensino por projetos” e poderem ser utilizadas/adaptadas pelos
professores, principalmente quando as TIC´s estiverem em questão.
É significativo perceber que essa situação ocorre várias
vezes e de forma não prevista no projeto. Basta que o professor tenha
sensibilidade para “adaptar-se” à situação, os tipos de atividades – e então as
abordagens - podem mudar e mesclar-se, ainda que isso não ocorra tendo como
base o projeto em si, mas apenas na aplicação das atividades práticas.
A problematização é dialógica quando o conteúdo
programático não é “engessado” dentro de um projeto, mas sofre
“alterações/adaptações” para que se possa devolver conhecimento no lugar de
informação.
“Quanto à necessidade de problematizar
para conhecer, Freire (2000, p.98) esclarece: ‘Para o educador-educando,
dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é
uma doação ou uma imposição – um conjunto de informes a ser
depositado nos educandos – mas, a devolução organizada, sistematizada e
acrescentada ao povo, daqueles elementos que este lhe entregou de forma
inestruturada.’ (Freire, 2000, p.98, apud, BATISTA, Deniele Pereira - Técnicas
e Métodos de Uso das TIC em Sala de Aula. V.1, 1ª Ed, Juiz de Fora:UFJF, 2009)
Diante
disso, observa-se ainda que:
“Os conteúdos programáticos são definidos
a partir de um esforço constante do educador em desvelar aspectos da realidade
dos alunos para traçar as unidades de aprendizado. Na perspectiva freireana,
por exemplo, o ato do conhecimento é aquele em que o educando se coloca como
sujeito atuante, por meio do diálogo com o educador. Este, ao trabalhar com
situações desafiadoras que sejam existenciais para os alunos, estaria
conduzindo um processo ativo, dialogal e crítico.” (...) “Por outro lado,
também não se deseja que o conhecimento escolar se detenha basicamente na
transmissão de conteúdos programáticos sem considerar o universo do estudante.
Digamos que uma concepção mais desejável seria a integração dessas duas
formas, para que as questões advindas do cotidiano do aluno se
inter-relacionem com os conteúdos das disciplinas e vice-versa, resultando em
um conhecimento mais global.” (Id,grifo nosso)
Baseando-me
no material disponibilizado, verificamos que o que aconteceu foi que:
“os conteúdos deixam de ser um fim e
passam a ser meios para a formação e a interação com a realidade, envolvendo
dinamismo e espírito crítico, tornando a aprendizagem significativa”. (PETITTO,
2003, p.63, apud Id,Ib).”
“Compreendemos, então, que a prioridade de
trabalhos dessa natureza centra-se, principalmente, no caráter significativo
da aprendizagem, levando o aluno a passar para a realidade aquilo que aprende
na escola e vice-versa..” (Id. Ibid. – grifos nossos).
Podemos perceber então que a “Aprendizagem por Projetos”
pode ter atividades com características inequívocas do “Ensino por
projetos”, ou seja, podemos concluir que há projetos que em sua aplicação
prática, podem vir a mesclar essas duas abordagens, fazendo com que
essas não sejam classificações absolutas.
“...o planejamento de um projeto (na
perspectiva da aprendizagem por projeto) envolve algumas etapas que devem ser
pensadas cuidadosamente pelo professor, sem perder de vista que o aluno deve
ocupar lugar de destaque. A participação e o envolvimento do aluno durante o
processo de elaboração de projetos passam a exigir dele, de maneira natural,
uma postura de investigado, solicitando-lhe tomar decisões, fazer descobertas,
ser criativo, organizado e estabelecer parcerias com o grupo e com o
professor.” (id, ibid)
Hernandes, e principalmente as classificações de Léa
Fagundes, além das “certezas provisórias” que geram “dúvidas
temporárias” apresentados pela eminente Batista (BATISTA, 2009, p.71 e
75), demonstram isso com clareza.
Fonte: BATISTA, 2009, p.71 e 75
A atitude dos alunos em resposta à provocação de
aprendizado da professora, mesmo se fosse considerada uma situação isolada,
demonstra que várias dessas situações educacionais cotidianas e reais fazem com
que fiquem mais próximas da “Aprendizagem por projeto”, onde a curiosidade e as
novas descobertas geraram novas questões dentro do conteúdo, enquanto o aluno
torna-se agente. Mesmo quando a abordagem inicial é de um “Ensino por projeto”,
quando a autoria inicial pertenceu ao corpo docente escolar, ela pode ser
“emprestada” ao aluno, que “assume” os aspectos da “Aprendizagem por projetos”.
Os sujeitos trocam de papéis e os paradigmas se mesclam,
assim como as decisões. Há ressignificação da aprendizagem.
Após essas considerações, não se poderia considerar que
além das abordagens conhecidas de “Aprendizagem por Projetos” e de “Ensino por
Projetos” haveria uma terceira: “Aprendizagem e Ensino por Projetos”?
Eu acredito que sim.
Referências:
BATISTA,
Deniele Pereira. Técnicas e Métodos de Uso das TIC em Sala de Aula. V.1. 2ª Ed.
– Juiz de Fora: UFJF, 2010. Apostila apresentada no curso de Especialização em
Tecnologia da Informação e Comunicação para o Ensino Fundamental, Unidade III,
passim.
GONÇALVES,
Zilda C. V. Fajoses. - "Diretrizes para o trabalho pedagógico das TIC: um
acordo coletivo", Texto para a Disciplina “Técnicas e Métodos de Uso das
TIC em Sala de Aula” Plataforma Moodle, Curso de Especialização em Tecnologia
da Informação e Comunicação para o Ensino Fundamental 2010, s/p.
Anexo I
Relato de Observação de uma
Aula de Espanhol no laboratório de Informática
Esse
é o relato da observação de uma aula de Espanhol com o uso do Computador e
Internet da professora Adriana Costa Henriques para alunos do Ensino
Fundamental matriculados no Projeto de Oficinas (extraturno). Esta aula se deu
no dia 30 de setembro de 2010 no laboratório de Informática da Escola Municipal
Núbia Pereira Magalhães – CAIC.
Os
alunos matriculados nesse projeto são oriundos da comunidade e da própria
escola e iniciaram o curso no segundo semestre do corrente ano. Os projetos do
Caic são sempre abertos aos alunos da própria escola e à comunidade,
principalmente aos alunos da E.E. Prof. José Saint´Clair. O CAIC-Núbia, como a
escola é conhecida, desenvolve diversos projetos concomitantes ao Ensino
Fundamental regular, aplicados nas diversas oficinas disponíveis como: Dança,
Xadrez, Espanhol, Informática, Vôlei, Handebol, Flauta, Violão, Futsal,
Convivência (3ª idade), Teatro, Coral, dentre outros, e direcionados
principalmente aos alunos da própria escola, apesar de abertos à comunidade.
A
professora Adriana não sabia de antemão que teria sua aula observada e quando
estava pegando as chaves do laboratório de Informática da escola, gentilmente
aquiesceu à solicitação feita por mim para fazê-lo, quando expliquei o que
precisava fazer e qual era o objetivo.
Ela
se dirigiu ao laboratório de informática antes do horário marcado para as
aulas, ligou todos os computadores e os colocou num site com um jornal em
espanhol antes da chegada dos alunos. Quando eles chegaram, ela explicou que a
aula seria desenvolvida em três etapas e que a primeira era o jornal que estava
na tela – um jornal muito famoso na Espanha o “El Mundo” (www.elmundo.es) – e que os alunos tentariam
fazer uma “leitura instrumental”, ou seja, deveriam tentar identificar as
palavras na tela e, por associações, tentar entender qual era a “mensagem”
transmitida.
Os
alunos fizeram diversos questionamentos durante a leitura, principalmente de
tradução das palavras e comentaram o que estavam lendo.
Na
segunda etapa, a professora deu a eles um endereço de um Chat (www.terra.es/chat) em espanhol para que
eles pudessem entrar e conversar com quem estivesse online no momento. Os
alunos continuaram com as perguntas e observei que usaram muito “portunhol” e
brincadeiras em sua interação.
Iniciando
a terceira etapa, foi solicitado aos alunos que entrassem num site de jogos
educacionais de um Instituto Brasileiro de Língua Estrangeira (www.institutoespanhol.com.br).
Os alunos pareceram se divertir bastante enquanto tentavam adivinhar o que
estava escrito na tela no jogo da “Forca” e “Adivinhas”, além de outros.
Um
aspecto interessante foi eles terem se “desviado” do planejamento inicial da
aula para ler quadrinhos em espanhol no site Máquina de Quadrinhos da Turma da
Mônica, até mesmo incentivados pela professora que os ajudou na tradução e
interpretação, além de brincar com eles sobre algumas das histórias,
correlacionando-as ao seu dia-a-dia. Os alunos ficaram sabendo do site por
alguns alunos que participavam de um outro projeto na escola: “Quadrinhos –
Aprender e Ensinar Brincando”. (Confesso que foi uma agradável surpresa para
mim quando descobrimos o que eles estavam fazendo.)
Acredito
que os alunos tiveram uma boa recepção da estratégia utilizada pela professora,
já que eles usaram os diversos recursos para adquirir mais intimidade com a
língua espanhola, além de interagir com as interfaces da internet usadas para a
aplicação da aprendizagem na aula. Ficou caracterizado o bom uso de ferramentas
assíncronas (jornal e jogos) e síncronas (Chat).
A
interação dos alunos, o resultado final após a aula, a forma como foi abordada
a língua espanhola e os diversos aspectos relacionados à minha observação me
levam a crer que as tecnologias disponíveis foram bem utilizadas pela
professora com recursos positivos e estimulantes para os alunos.
Eles
não só participaram da aula, como foram sujeitos de seu próprio aprendizado. E
isso tudo enquanto se divertiam.
Sites:
http://www.elmundo.es/
- Jornal da Espanha “El Mundo”
http://www.terra.es/chat/
- Chat em espanhol
http://www.institutoespanhol.pt/
- Instituto Brasileiro de Língua Estrangeira.
Tags: Aprendizagem
e Ensino Por Projetos
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Uma Nova
Abordagem: “Aprendizagem e Ensino por Projetos” publicado por Fajoses
Zilda Cristina Ventura F Gonçalves em http://www.webartigos.com
Fajoses Zilda Cristina Ventura F Gonçalves
Pós
Graduanda em TIC´s no Ens. Fundamental. Bacharel em Adm. de Empresas, Téc. em
Seg. Trabalho, Sec. Escolar, Professora de Gestão/Serviços Públicos - Educação
Online (EAD) do IFET-JF/CTU Campus Juiz de Fora (Ações Públicas, Gestão Social,
Patrim. Público, Noções de Direito Administrativo, Protocolo e Cerimonial,
Sustentabilidade e Urbanismo, Licitação, Contratos e Convênios) antes Tutora à
Distância. Cursos na área de informática, extensão e aperfeiçoamento.
Ler
outros artigos de Fajoses Zilda Cristina Ventura F Gonçalves
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/51578/1/Uma-Nova-Abordagem-Aprendizagem-e-Ensino-por-Projetos/pagina1.html#ixzz14jwFXAYc
...
Zilda Fajoses Gonçalves
Bacharel
em Administração de Empresas e Técnica em Segurança do Trabalho, Secretária
Escolar, Professora do curso de Gestão/Serviços Públicos em Educação Online
(EAD) do IFET/CTU (Ações Públicas, Gestão Social, Patrimônio Público, Noções de
Direito Administrativo, Protocolo e Cerimonial, Sustentabilidade e Urbanismo,
Licitação, Contratos e Convênios, Informática Aplicada) e antes Tutora à
Distância (EAD IFET/CTU - Três Pontas).
Fiz alguns cursos na área de informática, extensão e aperfeiçoamento (UFMT,
UFRJ, PJF etc).
Pós-graduanda em TIC´s pela UFJF.
Sou apaixonada com Educação Online.
Casada, três filhos, e nas horas vagas (quase inexistentes) "finjo"
ser escritora de fic´s.
Fonte: http://www.artigonal.com/educacao-artigos/uma-nova-abordagem-aprendizagem-e-ensino-por-projetos-3443095.html
[1] Zilda
Cristina Ventura Fajoses Gonçalves é Bacharel em Administração de Empresas,
Professora de várias disciplinas do curso Técnico em Serviços Públicos do
IFET-JF – Campus Juiz de Fora e Pós-Graduanda em TIC´s - Tecnologia de
Informação e Comunicação no Ensino Fundamental Latu Sensu pela UFJF.
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