Uma pesquisa inédita, divulgada para a imprensa no dia 23 de junho, na Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – FAPEMIG, revela a percepção da população do estado sobre os temas relacionados à Ciência e Tecnologia – C&T.
Esta é a primeira enquete de percepção pública da C&T no estado. A Pesquisa utiliza uma metodologia inovadora, que incorpora também valores morais, religiosos e o nível educacional dos entrevistados. Além disso, seus dados podem ser comparados com os de outras pesquisas já realizadas por outros países sobre o tema.
Entre as conclusões do estudo, ficou evidente que os mineiros são muito interessados em ciência, porém o acesso às informações científicas ainda é muito baixo. Os mineiros também possuem uma visão positiva da C&T. Outro ponto comprovado é que os cientistas mineiros são extremamente respeitados pela sociedade, contando com um grande prestígio.
O professor Yurij Castelfranchi, do InCite – Pesquisa em Inovação, Cidadania e Tecnociência, da Universidade Federal de Minas Gerais, explicou que, apesar de positiva, a visão dos mineiros sobre a ciência não é ingênua. “A preocupação com as mudanças climáticas é imensa”, ressaltou. Outra conclusão é que a grande maioria acredita que a Ciência traz mais benefícios que malefícios. “Os mineiros são mais otimistas em C&T que os europeus”. A pesquisa mostra que 78% acreditam que é preciso investir mais em ciência, ao contrário de países europeus, que acham preciso manter investimentos nessa área.
A “Pesquisa Mineiros e a Ciência” foi realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – por meio do Observatório Incite – Inovação, Cidadania e Tecnociência, com apoio da FAPEMIG. Ao todo, foram ouvidos 2 mil entrevistados, a partir de um questionário de 100 perguntas, de acordo com os realizadores. A pesquisa apresenta grau de precisão de 95% e margem de erro amostral de 2%.
Confira os 10 principais resultados da pesquisa:
1. Cidadãos e cidadãs de Minas Gerais declaram ter interesse por temas científicos e tecnológicos (C&T, medicina e saúde, meio ambiente): comparável com as médias nacional, europeia e dos EUA;
2. Os mineiros confiam nos cientistas e atribuem valor e prestígio à profissão de cientista. Também são vistas de formapositiva as instituições que fazem pesquisa científica ou tecnológica em nosso Estado, bem como a qualidade em geral da C&T no Brasil;
3. As atitudes dos mineiros sobre os efeitos, a importância e os benefícios da C&T são também positivas. A maioria da população afirma que C&T traz “mais benefícios do que malefícios para a humanidade”, ou até mesmo “só benefícios”. Mas, não por isso, a visão dos mineiros é simplista ou acrítica;
4. Uma parte consistente da população de MG expressa a opinião de que a ciência e a tecnologia também possuem implicações delicadas e questionáveis do ponto de vista dos efeitos sociais, ambientais, éticos, e se declaram, em sua maioria, favoráveis a um controle social e político da ciência, à formulação de códigos de conduta, ao princípio de precaução, e afirmam também que, nas decisões importantes sobre C&T, a população deveria ser ouvida;
5. Em particular, os mineiros concordam, em média, que a “C&T vai ajudar a eliminar a pobreza e a fome no mundo”. Também há muitas pessoas concordando com as afirmativas que “por causa do conhecimento, os cientistas têm poderes que os tornam perigosos” e que “C&T é responsável pela maior parte dos problemas ambientais atuais”;
6. Apesar do interesse que os mineiros demonstram e da visão globalmente positiva, o acesso da população à informação científica e tecnológica é ainda baixo, e marcado por grandes desigualdades. Muito escassa também é a participação em espaços ou atividades de difusão cultural, tais como museus, debates ou palestras. O consumo de informação científica nos meios de comunicação é elevado apenas em uma minoria da população.
7. Como consequência, mesmo entre pessoas com grau de interesse elevado e escolaridade alta, pouquíssimos mineiros conseguem lembrar o nome de alguma instituição que faça pesquisa no Estado de Minas, ou o nome de algum cientista brasileiro. São também poucos os que conhecem a FAPEMIG.
8. A maioria dos mineiros aponta que deveria haver maiorinvestimento de pesquisa em medicina, sendo que as pessoas com maior nível de escolaridade apontam, ainda, a importância de investimento em energias alternativas e, as de menor nível escolar, enfatizam a importância do investimento em agricultura.
9. Por fim, descobriu-se o otimismo, ou o pessimismo, das pessoas sobre os benefícios e os riscos do desenvolvimento técnico e científico não é determinado pelo grau de escolaridade ou pela renda: não necessariamente pessoas com menos anos de estudo terão mais “medo” da ciência. Algumas das atitudes, ao contrário, se tornam mais cautelosas ou críticas entre pessoas de alta escolaridade. A região e o contexto de moradia, o interesse de cada pessoa em C&T e seu consumo de informação, bem como os valores e o posicionamento moral, são fatores mais importantes para formar a opinião das pessoas sobre diversos aspectos da C&T.
10. Os resultados desta primeira enquete de percepção pública da ciência e tecnologia no Estado de Minas Gerais apontam, de um lado, para uma curiosidade e uma demanda por informação e acesso a atividades de difusão da cultura científica. Masmostram, ao mesmo tempo, a necessidade de uma maior oferta de divulgação científica de qualidade, de um fortalecimento da educação, formal e informal, em ciências, denunciando uma grande diversidade e desigualdade entre as diversas regiões do estado e entre diversos grupos sociais. Muito pode ser feito para que a ciência e a tecnologia façam parte integrante da cultura e das competências dos mineiros. E, para que todos os cidadãos, pelo acesso à discussão democrática e à diversidade de saberes sobre meio ambiente, saúde, tecnologia e ciências em geral, possam atuar de forma cada vez mais ampla e profunda, tanto em suas vidas profissionais, como no exercício da cidadania, há um grande caminho a se trilhar.
Fonte: http://www.simi.org.br/biblioteca/exibir/noticia/6966
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