sexta-feira, 12 de junho de 2015

De drones a softwares: a batalha contra a cola

No temido exame chinês gaokao, equivalente ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no Brasil, a China usará, além de milhares de policiais e vigias, drones que detectam comunicação entre candidatos e até minúsculos aparelhos de transmissão de dados.
Enquanto isso, em universidades de todo o mundo aumenta a preocupação com o “copiar-colar” nos trabalhos acadêmicos. Pelo visto a cola não é só “coisa de criança”. Dois estudos recentes, um da Universidade de Carolina do Sul e outro da Universidade de Virginia, ambas nos EUA, mostram isso em números.
O primeiro estudo analisou trabalhos de graduação em diversas faculdades e constatou que 64% deles continham algum tipo de plágio, desde “mudar as palavras” de um modo insuficiente até copiar direto de uma fonte da internet. A segunda pesquisa analisou dissertações de pós-graduação e verificou que 27% delas também continham textos copiados de sites, sem aspas nem citações.
O problema vem se tornando tão sério que muitas instituições passaram a adquirir programas para detectar os trechos copiados pelos estudantes. Na Espanha, os reitores das universidades chegaram a fazer um acordo coletivo com um provedor de software antiplágio, depois de descobrirem que 60% dos trabalhos dos estudantes apresentavam algum nível de cópia.
Há algo em comum entre a prática criminosa percebida na China, organizada por quadrilhas que vendem as respostas de uma das provas mais difíceis do mundo, por meios eletrônicos, financiada por pais que querem comprar o acesso às melhores universidades, e a simples transcrição da internet, aparentemente inofensiva, como sugeria o ditado: “Quem não cola não sai da escola”?
Essas situações têm em comum o uso fraudulento da tecnologia, totalmente desassociado da ética. Muitos dirão que a cola já existia antes da web. É verdade, mas a tecnologia torna tudo bem mais fácil e tentador: se no passado era preciso passar horas copiando, hoje um simples comando no teclado resolve tudo.
O reflexo disso se vê no mundo do trabalho. A maioria das empresas reclama que seus colaboradores têm deficiências ao escrever e que a escrita é um empecilho para crescer na carreira. Reclamam também da falta de competências comportamentais de muitos funcionários, ligadas à ética e ao profissionalismo.
Qual é a solução? Como profissional da área de educação, adoraria ter uma resposta segura. Mas não creio que ela exista, até porque esse é um dos problemas que mais inquietam os professores de todo o mundo.
Entre as boas sugestões que tenho visto, destacam-se:
- Para os professores
Empenhar-se seriamente em inibir a cola, para evitar que aqueles que fraudam as regras obtenham notas melhores que os outros. Orientar mais as pesquisas dos estudantes. Usar a tecnologia a favor da aprendizagem, como na sala de aula invertida. Tornar os conteúdos atraentes e incentivar os alunos a estudar. Ensinar a escrita acadêmica, explicando como integrar corretamente as ideias de outros, com citações e referências.
- Para escolas e universidades
Levar em conta as leis de direitos autorais, não permitindo que professores e alunos façam fotocópias de livros sem licença. Ministrar oficinas de redação. Contar com softwares de controle de plágio.
- Para empresas
Por que não aplicar, em todo processo seletivo, uma prova de redação? Isso pode estimular os alunos, desde cedo, a pensar mais por si mesmos.

- Para os pais
Lembrar aos filhos que, ao colar, perdem uma oportunidade de aprendizagem e isso fará falta um dia. Não se pode plagiar para sempre, o fracasso é certo. Incentivar a autonomia, o pensar “fora da caixa”. E, sobretudo, mostrar que “levar vantagem” é desonroso. Afinal, embora as punições possam ser eficientes até certo ponto, a melhor educação é a que promove valores e posturas de vida.
Fonte: http://g1.globo.com/educacao/blog/andrea-ramal/1.html

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