quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Capra e o que é e o que não é Sustentabilidade II

Para F. Capra: O que é e o que não é Sustentabilidade

Fritjof Capra.

 “Não podemos mais enxergar o universo como uma máquina, composta de blocos elementares. Descobrimos que o mundo material é principalmente uma rede inseparável de relações. O planeta é um sistema vivo e auto-regulado. A evolução não é uma luta competitiva pela existência, mas sim uma dança cooperativa.
Capra

Crescimento qualitativo

Para Capra, o crescimento zero não é a resposta, pois crescer é uma característica central da vida.

“Na natureza o crescimento não é linear e ilimitado. Em um ecossistema, uns crescem mais, outros declinam e assim reciclam seus componentes, que se tornam recursos para um novo crescimento. Há um crescimento multifacetado, qualitativo, que contrasta com o quantitativo pregado atualmente por economistas”.

Assim como outros grandes pensadores, Capra questiona o uso preponderante Produto Interno Bruto (PIB) para medir a saúde dos países.

Custos sociais como acidentes, guerras, mitigação e cuidados com a saúde são adicionados e aumentam o PIB e o fato que o seu crescimento pode ser patológico raramente é citado por economistas, alerta.

“Esse reconhecimento da falácia do crescimento econômico é essencial. É o primeiro passo para superar a atual crise econômica global (..) Grande parte do que se chama de ‘crescimento’ é lixo e destruição.”

O verdadeiro crescimento, explica, melhora a qualidade de vida e aumenta a sua complexidade, sofisticação e maturidade.

“Isto faz parte de uma mudança de paradigma de quantidade para qualidade. O crescimento qualitativo é consistente com a nova concepção científica da vida”, explica. “Não se pode medir a natureza de um sistema complexo, como os ecossistemas, a sociedade ou a economia, em termos puramente quantitativos.”

Para Capra, a qualidade não pode ser agregada em um único número. “Então, como seria possível promover o crescimento qualitativo? Definitivamente não através do PIB”.

“Precisamos distinguir o bom do ruim para que os recursos naturais presos a processos ruins possam ser direcionados para os eficientes e sustentáveis”, comentou. “O crescimento ruim é aquele que gera externalidades ambientais, econômicas e sociais e o bom envolve processos produtivos mais eficientes, que usam energias renováveis, têm emissões zero, reciclam, restauram ecossistemas e a apoiam as comunidades locais.”

Construindo a qualidade

Entender as conectividades dos nossos problemas globais e reconhecer soluções sistêmicas é a primeira lição para construir a qualidade que precisamos hoje para a liderança global, segundo Capra. Outra lição seria a construção de um ‘senso moral’.

A perspectiva sistêmica mostra que dois problemas urgentes, a desigualdade econômica e as mudanças climáticas, resultam da estrutura econômica e corporativa global que não têm ‘senso moral’, nota.

Um exemplo disso são as conclusões de um estudo de 2012 apontando que os ricos globais somam juntos até US$ 32 trilhões. “Se eles tivessem um senso moral e pagassem seus impostos não haveria mais crise. Haveria dinheiro suficiente”, ressaltou Capra.

Outro exemplo citado pelo físico se volta para as conclusões inequívocas da ciência sobre as mudanças climáticas e a necessidade das empresas que exploram combustíveis fósseis de abandonar os planos de exploração de 80% das reservas contabilizadas em seus ativos.

“Elas estão dispostas a fazer isso? As empresas precisam se perguntar: o meu modelo de negócios inclui a destruição do planeta? Ou tem uma alternativa moral?”

Liderança e o Brasil

“Hoje temos conhecimento e tecnologia para a transição para um futuro sustentável, não precisamos dos perigos da energia nuclear e nem de gás de xisto. Podemos ir além dos combustíveis fosseis”, defendeu Capra.

“Precisamos de vontade política e liderança (..) O que em tempos estáveis é diferente do que em tempos de crise ambiental e econômica, que é o que temos hoje. A maioria dos problemas são globais, apesar da demanda por lideranças em nível regional e corporativo, precisamos também de lideranças em nível global”.

Capra ressalta que na atual crise global, o Brasil e a Alemanha estão melhor posicionados do que a maioria dos países.

Ele comentou que nos Estados Unidos, Barack Obama foi eleito com grandes esperanças, mas sucumbiu ao sistema corrupto, e no fim, a riqueza dos pobres está sendo sistematicamente repassada para os ricos. Porém, ele acredita que no Brasil a situação está melhor, apesar da população não estar satisfeita.

“Programas como o Bolsa Família e o Fome Zero reduziram a desigualdade econômica ao retirar milhões de pessoas da pobreza, mas mesmo assim muitos problemas de desigualdade e corrupção permanecem e ainda há muito trabalho a ser feito.”

“O Brasil pode ser um líder global”, ressaltou após assistir apresentações sobre o Programa Água Boa e sobre as ações de sustentabilidade previstas para a Copa de 2014. “Estes são ótimos exemplos de liderança global que precisam ser divulgados. O que pode acontecer no ano que vem, já que todo o mundo vai olhar para o Brasil”."


Fonte: http://agorasustentabilidade.blogspot.com.br/2013/09/F-Capra-e-o-que-eh-e-o-que-nao-eh-Sustentabilidade.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique a vontade para compartilhar informações, comentários e links.
Mas seja gentil. :)