sábado, 30 de novembro de 2013

Celular e Educação

Faltam livros nas escolas públicas de Uganda e para incentivar a leitura entre jovens estudantes, a operadora de telefonia MTN criou anúncios impressos em jornais, com imagens de livros pedagógicos que trazem um código exclusivo. Pelo celular, os estudantes podem digitar o código do livro e assim baixar uma cópia gratuita para ler no dispositivo. O projeto foi chamado de "The Everywhere Library" O uso do celular passou a ser considerado ferramenta útil para transformar o cenário da educação de regiões subdesenvolvidas, como Índia e a África. Fatores econômicos e demandas sociais fazem da África hoje uma das principais regiões no mundo com projetos de m-learning (aprendizado pelo celular). Atualmente há mais telefones celulares em toda a África do que nos Estados Unidos. Em 2012, o número de pessoas com uma assinatura de telefone celular na África chegou a 650 milhões.
"Nessas áreas, o salto direto para a tecnologia móvel pode ser mais útil quando se fala em educação. Para os outros cursos a distância, o celular é uma saída normal, mas o EAD tem que pensar em aula para todas as plataformas e formatos. Quando já se tem isso, a próxima etapa é disponibilizar esse conteúdo no mobile", avalia diz José Manuel Moran, doutor em comunicação pela USP e coordenador de EAD da universidade Anhanguera.

M-learning: o futuro da educação na África?

De acordo com um relatório de 2012 da GSMA, associação comercial que representa 800 operadoras de telefonia móvel no mundo, hoje há 475 milhões de conexões móveis na África subsaariana, seja em zonas urbanas, rurais e comunidades mais isoladas, contra 12,3 milhões conexões de telefonia fixa. 
"Os africanos têm dispositivos móveis e os dispositivos móveis podem enriquecer a educação", diz Mark West, da equipe de projetos de m-learning da Unesco, em Paris. "O desafio agora é ajudar as pessoas a alavancar a tecnologia que eles já têm (ou podem obter no futuro) para fins educacionais. Muitas pessoas ainda os veem como a antítese de aprendizagem. Nossa pesquisa indica o contrário: a tecnologia móvel, quando adequadamente integrada, pode ser um poderoso aliado quando se trata de educação", completa.
Segundo West, as duas demandas educacionais mais urgentes na África hoje são o acesso à educação e a qualidade do ensino. Das 57 milhões de crianças não estão na escola primária, e 42,2 milhões delas estão na África.
"No Quênia, 9% das mulheres ainda são analfabetas depois de seis anos de escolaridade formal, e apenas 30% são semi-alfabetizadas. Os números são chocantes, mas são maiores em outros países. Encontrar maneiras de ajudar essas mulheres que têm tido o direito a educação negado é vital. Então, acesso é apenas metade da questão".

Na visão do especialista, a tecnologia pode, em essência, abri novas oportunidades que não existiam no passado, ciente de que ela, sozinha, não resolverá todos os problemas. "Essas possibilidades significam que os alunos devem começar a aprender através de telefones celulares em vez de escolas? Claro que não. Contudo, na ausência de escolas, celulares podem fornecer um leque de recursos de aprendizagem. Idealmente, a tecnologia móvel complementa e melhora o ensino das escolas por professores altamente qualificados", diz West.
Nenhum professor gosta de ver seus alunos distraídos durante a aula, atraídos por mensagens, vídeos e redes sociais no celular. No entanto, a imagem do celular como um vilão da educação está ficando para trás. Especialistas em ensino a distância já consideram o celular um aliado da educação por sua facilidade de acesso.
No Brasil, são exemplos de projetos iniciativas como o ProDeaf, aplicativo para celulares Android que traduz tudo o que você escrever ou falar para libras (língua de sinais usada por pessoas surdas e mudas) e ainda a parceria de uma operadora de telefonia celular com o professor Pasquale, que tira dúvidas de português da escola ou do trabalho pelo celular. 
Outras incluem cursos de idiomas e de outras áreas via smartphones, além de projetos pelo mundo como o Nokia Mobile Mathematics, criado na África apoiar o ensino de matemática.
A tendência do mobile learning, ou m-learning, ganha força quando se avalia o número de celulares no mundo: entre 2000 e 2012, ele subiu de um bilhão para seis bilhões. Até o final de 2013, a previsão é de que esse número alcance quase sete bilhões, o que significa que os celulares serão quase o mesmo número de habitantes do mundo, segundo a UIT (União Internacional de Telecomunicações). 
O projeto EcoMUVE, da Universidade de Harvard, ajuda crianças do ensino médio a aprender sobre ambiente e conceitos de ciências, biologia e geologia pelo smartphone. Durante excursões e visitas a ecossistemas, os estudantes podem utilizar o celular para explorar informações e armazenar dados sobre o local como temperatura, pH da água e topografia. O programa interativo integra recursos de GPS e combina o ensino de ciências a experiências no mundo real "Precisamos começar a integrá-los no cotidiano escolar. Enquanto instrumento de informação e comunicação, o celular tem o potencial inquestionável de viabilizar o acesso a dados e colocar pessoas em contato", diz Antonio Carlos Xavier, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) do Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias Educacionais.
Para Gil Giardelli, especialista em inovação digital e professor da ESPM, o celular é hoje objeto inseparável do educador. "Se o educador se posicionar como um curador de conteúdos e enviar materiais que despertam o interesse do aluno no trânsito, nas filas e em seus momentos de micro-tédios, ele consumirá e compartilhará o conteúdo do professor e entraremos na era do fim da aula cronometrada e do espaço concreto, onde alunos aprenderão no seu tempo e espaço".
Exemplos de como os professores podem usar o celular nas aulas não faltam. Desde lembretes de tarefas, sugestões de leituras e de programação cultural, exercícios preparatórios, entre outras dicas que podem ser enviadas por torpedo, como para pesquisas rápidas na internet, consulta a dicionários e a gravação de entrevistas em áudio ou em vídeo feitas pelos alunos com posterior debate das respostas.
Independente da iniciativa, José Manuel Moran, doutor em comunicação pela USP e coordenador de EAD da universidade Anhanguera, aponta que o alto custo e a baixa qualidade da conexão à internet são os principais obstáculos ao m-learning. "O custo do acesso à banda larga ainda é muito caro. A maioria dos dispositivos só pode ser acessada online, as conexões nem sempre favorecem o conteúdo postado, então é preciso um acordo com as companhias de telefonia para que o custo da internet seja mais barata e a conexão melhorada, pelo menos nos projetos em áreas mais pobres".

No Brasil, uso de celular para aprendizagem de idiomas é destaque

No Brasil, o uso do celular ou smartphones como recursos pedagógicos é bastante novo. Além dos exemplos citados no início, Xavier destaca o bom uso que escolas de idiomas vêm fazendo da ferramenta. Muitas operadoras de telefonia já apostam em cursos de idiomas por SMS.
Da UFPE, Xavier cita dois trabalhos que orientou em 2012 onde as pesquisadoras realizaram experimentos com o uso do celular para o ensino de inglês. Em um deles o aluno interagia com um avatar em um aplicativo que simulava situações de viagens para o exterior, e no outro, feito com aprendizes de inglês de uma escola pública do ensino médio, os alunos recebiam tarefas por torpedo, gravavam textos em inglês para testar a pronúncia e realizavam buscas em dicionários "baixados" em aparelhos celulares. 
"Os resultados de ambas as investigações apontaram para um significativo aumento do interesse dos estudantes pela aprendizagem da língua inglesa, quando havia atividades para serem realizadas no e com o celular. Perceberam uma nítida ampliação de vocabulário e melhoria na pronúncia entre os estudantes que participaram das pesquisas", diz o professor.
Para Giardelli¸ o Brasil ainda tem poucos exemplos de projetos envolvendo celular e educação, mesmo existindo demanda para isso. "No Brasil, infelizmente temos um grupo intitulado 'Geração Nem, Nem', que nem estuda, nem trabalha e nem procura emprego. São milhões de jovens hoje entre 14 e 24 anos. Pesquisas indicam que estes jovens já estiveram na sala de aula e abandonaram os estudos. Estou certo de que em um país com mais de 200 milhões de celulares, a tecnologia nos ajudará  a fazer uma revolução educacional".

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