sábado, 2 de fevereiro de 2013

Políticas de acesso ao ensino superior transformam o perfil da sala de aula


“O Brasil assistirá dentro de dez ou quinze anos o surgimento de uma nova geração de intelectuais, cientistas, técnicos e artistas originários das camadas pobres da população”.
Foi com estas palavras que o ex-presidente Lula tomou posse de seu segundo mandato, em janeiro de 2007.
A transformação citada pelo ex-presidente começa a ser vista nas salas de aula. De acordo com o último Censo da Educação Superior, entre os anos 2001 e 2010, houve um aumento de 110% no número de matrículas na graduação, chegando à marca de 6.379.299 inscritos.
Saiba mais
ProuniPrograma do MEC criado em 2004, que oferece bolsas de estudo integrais ou parciais em instituições de ensino superior privadas. Em 2012 foi atingida a marca de 1 milhão de bolsas concedidas.
ReuniEm vigor desde abril de 2007, o programa do governo federal visa a ampliação do número de vagas tanto nos cursos de graduação quanto no ensino técnico em instituições federais. Já foram construídos 354 campi em 321 municípios no Brasil.
Fies
Destinado ao financiamento da graduação de estudantes matriculados em instituições privadas de ensino superior, o programa do MEC foi criado em 1999. Até 2010 já havia beneficiado 477 mil estudantes, com um recurso de R$5,5 bilhões.
Desses, 74% frequenta uma instituição privada e 26% estuda em alguma instituição pública. A média desse público é de 26 anos, sendo que os 25% mais jovens têm até 21 anos e a mesma proporção dos mais velhos tem até 40 anos. A maioria é do sexo feminino (57%) e está matriculado em cursos presenciais (85,4%).
Apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito. Os dados apontam que, entre os jovens brasileiros de 18 a 24 anos, apenas 14,4% está matriculado em algum curso superior. O Plano Nacional de Educação (PNE) previa que até 2010, cerca de 30% dessa população teria acesso ao ensino superior, o que não aconteceu.
O Censo revela ainda que as políticas de ingresso ao ensino superior não são suficientes para garantir que os jovens concluam os estudos. Dos 6 milhões de matriculados, apenas 15% receberam um diploma, sendo 80,42% oriundos de instituições privadas, 10% de universidades federais, 7% de estaduais e 1,76% de municipais.
Para o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Anísio Teixeira (Inep), responsável por analisar os dados, o desenvolvimento econômico observado nos últimos anos criou uma pressão por mão de obra especializada. A resposta para essa demanda foi a criação e ampliação de políticas de financiamento estudantil como Fies e Prouni e a criação de novas universidades federais e campi no interior do Brasil.
Para entender como esse processo de ampliação do acesso ao ensino superior tem acontecido na prática, o Portal Aprendiz foi conhecer três jovens moradores da cidade de São Paulo que passam por diferentes experiências universitárias.
Os novos intelectuais

Tais Telles se preparou para o vestibular em cursinho popular.
Em 2007, Tais Telles (25), à época com 20 anos, foi selecionada para o curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Como parte das metas do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), a faculdade inaugurava um campus na cidade de Guarulhos (SP).
Naquele momento, a faculdade não dispunha de moradia para estudantes e foi por este motivo que Taís, ainda no primeiro semestre, abandonou o curso. Ela dividia o aluguel de uma casa próxima à faculdade com outros alunos, mas ainda assim tinha um custo de R$350 por mês.
Apesar das dificuldades, Taís não desistiu de cursar uma graduação. Prestou vestibular novamente em 2009, e em 2010 ingressou no curso de Geografia pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Atualmente está no 4° semestre, recebe cerca de R$300 de auxílio estudantil e mora dentro do campus. “Mas a renda ainda não é suficiente”, declara a estudante que, para complementar a renda, dá aulas em um cursinho popular da região e é cabelereira nas horas vagas.
Enquanto isso, o mercado de trabalho

Leandro Oliveira se prepara para o vestibular de Engenharia Naval visando o bom momento para esse profissionais.
Leandro de Oliveira Martins (24) formou-se em 2011 no curso de Comércio Exterior pela Universidade Nove de Julho (Uninove), onde possuía bolsa integral pelo Programa Universidade Para Todos (Prouni). Durante a graduação, estagiou em um banco e chegou a abrir uma empresa de consultoria financeira com sua irmã, mas não teve muito sucesso.
Determinado a ser um profissional bem sucedido, Leandro retornou para o Cursinho do XI, organização sem fins lucrativos ligada à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), que oferece preparação para o vestibular. “Meu objetivo é estudar na USP”, revela o jovem que já foi aprovado nos vestibulares da Unesp e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no curso de Engenharia.
De olho na demanda que será gerada pela exploração da camada pré-sal, o jovem – que tem afinidade com as disciplinas de Exatas -, afirma que pretende cursar Engenharia Naval. “Acho que esse é um bom momento para esses profissionais.”
Leandro certamente irá juntar-se aos 202.398 estudantes que optaram por um curso nas áreas de produção, construção e engenharia, conforme indica o Censo de Educação Superior. O curso figura como o 4° mais procurado, perdendo apenas para pedagogia, direito e administração.
Professores da próxima geração

A maior dificuldade de Diana Andrade era conciliar trabalho e estudo.
Com o sonho de ser professora, Diana Andrade (26) foi selecionada para o curso de pedagogia em 2006, com bolsa integral financiada pelo Prouni. Ingressou nas turmas de meio de ano da Universidade São Camilo, em São Paulo (SP) e concluiu em 2011.
A professora levou cinco anos para terminar um curso que tem duração de três. As dificuldades para dedicar-se à vida acadêmica fizeram com que ela trancasse a  faculdade por um ano. “O mais difícil era conciliar trabalho e estudo”, afirmou.
Moradora do município de Carapicuíba, localizado na região metropolitana da capital paulista, Diana trabalhava no Jd. São Luís, na zona sul, e estudava na Pompéia, zona oeste, levando cerca de 4 horas para se deslocar. “Eu cumpria uma jornada muito exaustiva”, declara a jovem.
Embora tivesse tantas atividades, Diana buscou diversas formações paralelas. Para adquirir experiência com desenvolvimento e implementação de projetos, implementou ações com apoio da Lei de Valorização da Cultura (VAI), que financia projetos culturais desenvolvidos por jovens paulistanos.
Fonte: http://portal.aprendiz.uol.com.br/2012/08/17/politicas-de-acesso-ao-ensino-superior-transformam-o-perfil-da-sala-de-aula/

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