quinta-feira, 18 de julho de 2013

Consultoria desenha escolas para estimular cérebro

Qual a diferença entre um corredor reto e comprido e um cheio de curvas e desvios? Além da estética, se for em uma escola, o caminho sinuoso vai proporcionar que os alunos aprendam mesmo quando estão se deslocando de uma aula para a outra e, por isso, é o preferido da professora e arquiteta Amy Yurko, fundadora da BrainSpaces, consultoria norte-americana especializada em projetos para escolas que estimulam a criatividade e o aprendizado de seus estudantes.
A empresa com sede em Chicago já desenvolveu centenas de projetos inovadores desde 2004 para instituições e redes de ensino nos Estados Unidos. Esses ambientes educacionais para o ensino fundamental, médio e superior não são apenas modernos na aparência, mas se baseiam em pesquisas sobre como o cérebro funciona e como as pessoas aprendem.
crédito venimo / Fotolia.com

“Pesquisadores sabem que aprendemos melhor quando as sinapses neurais são estimuladas e esses cientistas estão constantemente descobrindo quais atividades estimulam a atividade cerebral mais efetivamente. Nós traduzimos isso para a arquitetura das escolas. No caso do corredor, por exemplo, sabe-se que as atividades cerebrais são aceleradas quando as pessoas andam em ziguezague, muito mais do que quando andam em linha reta”, sintetiza Amy, que trabalha há 20 anos criando espaços educacionais.
O trabalho de Amy e sua equipe trouxe resultados a uma rede inteira de escolas. Nela, diz a consultora, apenas 50% dos alunos terminavam o ensino médio e, naquele ano, professores realizaram a maior greve da história do estado. Amy colaborou com todo o planejamento da transformação da rede escolar, que passou por mudanças no currículo, nas práticas de ensino e nos contratos de professores até as novas facilidades dos colégios.
Levando em conta pesquisas baseadas no funcionamento do cérebro, a principal pergunta feita pelo time da BrainSpaces aos gestores na época era: “Como seria se a escola realmente importasse?” O novo design que surgiu desse trabalho incluía ambientes sem paredes e espaços colaborativos, onde os professores puderam incentivar habilidades como autonomia e iniciativa, por exemplo. A nova estratégia aumentou a taxa de alunos formados para 87%.
Veja o vídeo, em inglês, de um dos projetos

Atuação
Os projetos da BrainSpaces nunca são iguais, tanto nas soluções como no processo. Embora o ponto de partida seja o conhecimento acumulado pela equipe sobre atividades cerebrais, o trabalho é desenvolvido de acordo com as necessidades, expectativas e orçamento de cada rede de ensino ou escola atendida pela consultoria. Antes do desenho e execução das obras, a equipe, que normalmente tem de dois a três profissionais, conversa com professores, alunos, gestores, pais e membros da comunidade. Essa primeira fase é chamada de iniciação, que é seguida pela descoberta, quando também são levantados dados sobre matrículas, taxas de evasão e graduação, grau de satisfação dos pais, engajamento dos alunos, currículo e atividades extraclasse. Só depois da análise dessas informações é que a fase do design em si começa.
Na maioria dos casos, a BrainSpaces não é responsável pela execução da reforma ou da construção da escola, mas presta subsídios e consultoria a arquitetos para que eles agreguem elementos inovadores em seus projetos. Mesmo nesses casos, a empresa faz questão de acompanhar as próximas duas etapas que completam o ciclo, de implantação e avaliação.
“O ensino é um empreendimento multifacetado, influenciado por vários componentes, que às vezes são conflitantes. Nós acreditamos que a arquitetura de ambientes educacionais pode proporcionar aos professores um ambiente propício para eles se conectarem de verdade às crianças, mas o espaço não faz isso sozinho”
“Para cada projeto, essas etapas podem ter ênfase e duração diferentes. O modelo de trabalho permanece o mesmo, mas há uma flexibilidade no processo para acomodar condições e características específicas de cada cliente. Além disso, sempre aplicamos lições aprendidas no passado em cada novo trabalho”, diz Amy.
Quando o prédio está pronto, a BrainSpaces ajuda as pessoas que vão ocupá-lo a usarem da melhor maneira possível. Algumas vezes, os professores recebem um treinamento. No período de avaliação, todos os dados que influenciaram o projeto – como a taxa de abandono escolar, por exemplo – são revisitados, para verificar se as mudanças esperadas ocorreram. Isso pode durar alguns anos, até que se tenha certeza sobre quais estratégias trouxeram melhores resultados e se consiga identificar o impacto do design no processo.
“O ensino é um empreendimento multifacetado, influenciado por vários componentes, que às vezes são conflitantes. Nós acreditamos que a arquitetura de ambientes educacionais pode proporcionar aos professores um ambiente propício para eles se conectarem de verdade às crianças, mas o espaço não faz isso sozinho”, diz Amy, que usa como exemplo de sucesso da integração de várias práticas em prol de um melhor aprendizado um projeto realizado em Seattle.
Pequenas mudanças
Apesar da complexibilidade do processo de desenvolvimento de projetos da BrainSpaces, alguns ensinamentos básicos sobre o impacto da arquitetura em como as pessoas aprendem podem ser replicados facilmente. Por exemplo, ambientes coloridos são mais estimulantes do que os de cores neutras, segundo Amy. A iluminação natural é outra recomendação para facilitar o aprendizado, mas mesmo quando não existem janelas, uma luz indireta, em vez de fluorescente, também deixa o ambiente mais agradável para estudar. A arquiteta e professora diz que já viu várias dessas pequenas mudanças serem implantadas pelos próprios professores, que reinventam o ambiente escolar com o que tinham, seja reformando móveis e mudando a sua disposição seja decorando paredes.

“Para a sorte de muitas escolas, alguns professores são bastante criativos em achar maneiras de usar espaços inadequados e mesmo assim criar boas oportunidades educacionais para seus estudantes. Mas imagina se eles não precisassem usar suas energias para compensar más condições de trabalho? Nós acreditamos que os professores devem receber suporte para fazer o que fazem melhor: ensinar”, defende Amy.

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