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A
terminologia terceiro setor é relativamente nova, surgiu no Brasil há
aproximadamente três décadas e é utilizada para definir um setor que se situa
entre o público e o privado.
O
setor público é o governo, representando o uso de bens públicos para fins públicos.
O segundo setor refere-se ao mercado e é ocupado pelas empresas privadas com
fins lucrativos.
O
terceiro é formado por organizações privadas, sem fins lucrativos,
desempenhando ações de caráter público.
Geralmente
o termo terceiro setor é utilizado para identificar que o espaço dessas
organizações na vida econômica não se confunde nem com o Estado nem com o
mercado, trata-se de um setor que identifica-se com uma terceira forma de
redistribuição de riqueza, diferente da do Estado e da do mercado.
A
redistribuição conduzida pelo Estado é feita através do monopólio do poder de
coerção, da existência de um modelo institucional e da normatização jurídica.
O Estado objetiva a redistribuição da produção da sociedade a todos os seus
membros e tenta sanar as desigualdades produzidas pelo mercado. A realocação
do Estado é movida pela lógica de justiça social.
A
redistribuição conduzida pelo mercado, diferente da redistribuição pela via
política, necessita de que todos os indivíduos sejam livres para que haja
possibilidade de se estabelecer contatos, os quais sempre são feitos baseados
em alguma noção de utilidade (Colozzi, 1985). A redistribuição de mercado
coordena a organização da sociedade capitalista. O mercado move-se pela
lógica do aumento da riqueza.
O
terceiro setor é uma mistura de princípios públicos e privados e, portanto
constitui um outro mecanismo redistribuidor de riqueza. As ações do terceiro
setor partem da sociedade civil e obedecem à lógica do altruísmo, da
filantropia, da reciprocidade, dos costumes e tradições, das concepções
morais e religiosas etc.
FERNANDES
(1994) considera o terceiro setor como uma das possibilidades lógicas do
universo de quatro combinações possíveis da conjunção público e privado:
O
terceiro setor agrega organizações como, Fundações, Associações, institutos,
entidades que atuam atendendo demandas sociais, que o Estado em crise de
legitimidade e incapacidade de financiar não consegue atender, utilizando
recursos privados ou parcerias com o próprio Estado.
A
partir dos anos noventa em nosso país, com o advento de conceitos como
responsabilidade social das empresas e um fortalecimento de um senso de
cidadania, o terceiro setor experimenta uma grande expansão. Para
compreendermos melhor essa trajetória, vamos recorrer ao texto A Sociedade
Civil e o Terceiro Setor, de Tanya Linda Rothgiesser - 29/07/2002, que
classifica esse processo em seis etapas:
1ª
fase - Império até a Iª República: Data de 1543, a primeira entidade do país
criada para atender desamparados, a Irmandade da Misericórdia, instalada na
Capitania de São Vicente. O Brasil era constitucionalmente vinculado à Igreja
Católica e a utilização dos recursos, principalmente o privado, passava por
seu crivo. Era a época das Ordens Terceiras, das Santas Casas, das
Benemerências atuando, principalmente, nas áreas de saúde e previdência. A
rigor, o que o Estado não provia, os líderes das principais comunidades
portuguesas e espanholas de imigrantes proviam. Com esmolas se constituíam pequenos
dotes para órfãos e se compravam caixões para os pobres. Beneditinos,
franciscanos e carmelitas, assim como a Santa Casa, foram exemplos
expressivos da ação social das ordens religiosas predominantes. Vinculam-se
às ações sociais desenvolvidas, à época, expressões tais como mutualismo,
benemerência e outras ainda hoje utilizadas, tais como, assistencialismo,
caridade etc.
2ª
fase - Revolução de 1930 até 1960: O país entrou na urbanização e na
industrialização que passaram a moldar a nova atuação da elite econômica. O
Estado ficou mais poderoso, único portador do interesse público. No Estado
Novo, com o presidente Getúlio Vargas, editou-se, em 1935, a primeira lei
brasileira que regulamentava as regras para a declaração de Utilidade Pública
Federal: dizia seu artigo-primeiro que as sociedades civis, as associações e
as fundações constituídas no país deveriam ter o fim exclusivo de servir
desinteressadamente à coletividade. Em 1938, formalizou-se a relação do
Estado com a assistência social com a criação do Conselho Nacional do Serviço
Social. Paralelamente à atuação do Estado, surgiram ações filantrópicas a
partir de senhoras de famílias economicamente privilegiadas; e os grandes
mecenas, oriundos das principais cidades e líderes de indústrias, como os Matarazzo,
Chateaubriand, entre outros.
Os termos filantropia e mecenato cunham-se nesta fase, marcadamente.
3ª
fase - A partir de 1960 até a década de 70: o fortalecimento da sociedade
civil se deu, paradoxalmente, no bojo à resistência à ditadura militar. No
momento em que o regime autoritário bloqueava a participação popular na
esfera pública, microiniciativas na base da sociedade foram inventando novos
espaços de liberdade e reivindicação. Inscrevem-se, neste momento, os
movimentos comunitários de apoio e ajuda mútua, voltados à defesa de direitos
e à luta pela democracia. Marca-se, neste contexto, o encontro da
solidariedade com a cidadania, representadas em ações de organizações
não-governamentais (ONGs) de caráter leigo, engajadas em uma dupla proposta: combater
a pobreza e combater o governo militar ditatorial.
4ª fase - a partir dos anos 70: Multiplicam-se as ONGs com o fortalecimento da sociedade civil - embrião do Terceiro Setor - em oposição ao Estado autoritário. O Brasil dava início à transição de uma ditadura militar para um regime democrático. Com uma "distensão lenta, segura e gradual" (como os militares costumavam caracterizar esse processo), a sociedade brasileira começou a exercer seus direitos constitucionais, suspensos até então. Com o avanço da redemocratização e as eleições diretas para todos o níveis de governo, as organizações de cidadãos assumem um relacionamento mais complexo com o Estado. Reivindicação e conflito passam a coexistir com diálogo e colaboração.
5ª
fase - os anos 90: Surge um novo padrão de relacionamento entre os três
setores da sociedade. O Estado começa a reconhecer que as ONGs acumularam um
capital de recursos, experiências e conhecimentos, sob formas inovadoras de
enfrentamento das questões sociais, que as qualificam como parceiros e
interlocutores das políticas governamentais.
O
mercado, antes distanciado, passa a ver nas organizações sem fins lucrativos,
canais para concretizar o investimento do setor privado empresarial nas áreas
social, ambiental e cultural. O termo cidadania já presentifica-se no
discurso do empresariado brasileiro, no início desta década. Paralelamente, o
sentimento vigente era que o Estado, sozinho, não conseguiria dar conta de
todas as suas obrigações na área social. Significativo nessa fase, a Câmara
Americana de Comércio (American Chamber of Commerce), com apoio da Fundação
Ford e da Fundação W.K. Kellogg promove um prêmio (ECO), reuniões e
conferências sobre filantropia em São Paulo, o que resulta na criação de um
comitê de empresas brasileiras e fundações corporativas. Incluía-se no grupo
fundações como Bradesco, Odebrecht, Roberto Marinho; organizações como o
Instituto Itaú Cultural; e empresas do porte da Xerox e Alcoa. O grupo
formaliza-se em 1995, formando o GIFE - Grupo de Institutos, Fundações e
Empresas. Em 1998, também em São Paulo, 11 empresas se associam e surge o
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Expressão que até
então não existia - responsabilidade social - vem marcar o início de uma
intervenção social empresarial alicerçada em um Código de Ética definidor de
parâmetros de conduta das empresas com seus públicos (stakeholderes).
Busca-se diferenciar, marcadamente, ações "de negócio" de uma
agenda voltada a investimentos sociais privados, de cunho ético e em benefício
da sociedade.
Marcam-se,
portanto, nesse período, as palavras parceria, cidadania corporativa,
responsabilidade social, investimento social privado. Formas de expressão
deste novo movimento de encontro dos três setores da economia brasileira.
Amplia-se,
fortemente, o conceito de Terceiro Setor: para além do círculo das ONGs,
valorizam-se outros atores sociais como as fundações e institutos (os braços
sociais das empresas), as associações beneficentes e recreativas, também as
iniciativas assistenciais das igrejas e o trabalho voluntário de maneira
geral.
A
ampliação das áreas de convergência não implicando no apagamento das
diferenças entre os setores. Ao contrário, por serem diferentes, canalizando
recursos e competências específicas e complementares.
Cria-se,
no governo de Fernando Henrique Cardoso, o Programa Comunidade Solidária com
o propósito de articular trabalhos sociais em vários ministérios. E, em 1998,
é regulamentada a Lei do Voluntariado.
6ª
fase - século XXI: A ONU-Organização das Nações Unidas decreta 2001 como o
"Ano Internacional do Voluntário". Acontecem, no Brasil, o I° e II°
Fórum Social Mundial, implementadores de idéias alternativas de ação
econômica e social. Promove-se o desenvolvimento social a partir do incentivo
a projetos auto-sustentáveis - em oposição às tradicionais práticas de
caráter assistencialista geradoras de dependência - e em propostas de
superação de padrões injustos de desigualdade social e econômica.
Questionam-se,
na sociedade civil, formatos pré-conceituosos baseados em padrões de
comportamento e pensamento julgados "adequados" aos
sujeitos-cidadãos. Abrem-se novas perspectivas à aceitação da diversidade de
comportamentos humanos, de respeito à singularidade cultural e à
autodeterminação econômica dos povos. Implementam-se políticas de proteção
aos bens da humanidade, incluídas todas as formas de vida e sua preservação.
Em
pequenos gestos cotidianos, tanto quanto, na busca de práticas sociais
solidárias, através de redes por todo o planeta, consolida-se uma proposta.
É
a Ética e a Solidariedade!
O
terceiro setor tem no momento atual da sociedade, duas realidades que devem
ser consideradas no seu desempenho:
1. a realidade de sanar as questões sociais não resolvidas pelo Estado do Bem Estar Social (Welfaire State) e as demandas sociais que o segundo setor abdicou nas suas tradicionais limitações. Essa realidade envolve a filantropia empresarial, os financiamentos de agências nacionais e estrangeiras, as redes de empresas que investem na gestão de conhecimento e metodologias para reverter às carências (o subemprego, o desemprego e o mau desenvolvimento econômico da sociedade). 2. A realidade do comprometimento e da missão de privilegiar o ser humano e as relações, exigem uma nova forma de gestão nas organizações sociais, ou seja: a gestão participativa, pois são organizações que não tem donos/acionistas e não visam ao lucro. O terceiro setor reavivou espaços na sociedade e começa a mostrar a sua importância na relação que visa a integração com o primeiro e segundo setores (são as ações sociais integradas às ações públicas e às ações privadas), no diálogo de políticas sociais necessárias, no treinamento eficaz de gestores sociais e na multiplicação de facilitadores de equipes.
Existe
um intercâmbio do terceiro setor com o Estado, pois o mesmo necessita da
representação política que a autoridade legal pode lhe fornecer e, inclusive
porque as ONGs são financiadas, também pelos órgãos do governo. De outro
lado, o terceiro setor, também necessita do mercado, pois a propriedade
privada é o marco de autonomia da sociedade diante do Estado e, portanto de
responsabilidade social.
A colaboração entre esses setores por meio de ações em parceria estabelece um novo espaço de pensar e agir às questões sociais. A parceria está representando a soma de esforços com o intuito de se alcançar interesses que sejam comuns. É o espaço do exercício da democracia que valoriza a co-responsabilidade dos cidadãos nos diferentes setores dos quais eles participam. Essa responsabilidade implica na alternativa de compor projetos capazes de enfrentar fatores tais como: a exclusão social, na destruição do meio ambiente, na explosão populacional, no crescimento do narcotráfico, das doenças, da pobreza, da falta de capacitação, do desemprego e permitir mobilizar recursos, meios, instrumentos e pessoas com capacidade e segurança de implementar trabalhos de interesse da humanidade. Para atingir os seus objetivos, o terceiro setor deve imprimir uma crescente aprendizagem da sociedade como um todo no que se refere à sua área de atuação e para tanto deve enfrentar e responder alguns desafios fundamentais para o seu fortalecimento, tais como: 1. Produzir cursos e disseminar informações sobre o que é o terceiro setor e como agir profissionalmente no mesmo; 2. Elaborar projetos e programas para a administração das Organizações sociais que, contenham qualidade na sua gestão; 3. Captar recursos para que ocorra a sustentabilidade das Organizações sociais; 4. Criar campanhas de esclarecimento e envolvimento público para gerar uma maior participação voluntária dos cidadãos às questões sociais. O cenário das Organizações sociais nos dias atuais é investir na qualificação e no desenvolvimento das suas próprias informações. Ao mesmo tempo, que exige um contínuo aprendizado, ocorre a mobilização de novos instrumentos que, quando operacionalizados, geram uma verdadeira revolução cultural. No Brasil o terceiro setor possui aproximadamente 12 milhões de pessoas, entre gestores, voluntários, doadores e beneficiados de entidades beneficentes, além dos 45 milhões de jovens que vêem como sua missão ajudar o terceiro setor. Uma pesquisa feita pela Kanitz & Associados revelou alguns números das 400 maiores entidades do Brasil no ano de 2000. Segundo esta pesquisa, o dispêndio social das 400 maiores entidades foi de R$ 1.971.000,00. Ao todo, elas possuem 86.894 funcionários, 400.933 voluntários. |
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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Terceiro Setor
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